02/07/2008

Thánatos

Ontem lá fui com a minha avó para o Hospital pa ela fazer o exame endoscópico. Ela estava nervosa (como de costume) e eu serena. Não lhe queria mostrar que estava impaciente pois isso só a iria enervar mais. Uma hora depois de lá termos chegado ainda não tinhamos sido "atendidas". Médicos a entrar, enfermeiros a sair, a senhora da recepção falava com a colega sobre uma terceira pessoa e comentava que "é impossível trabalhar com ela!". A minha avó está mais do que habituada a estas andanças. Eu, ali sentada, sentia-me invisível. Entretanto, aproximou-se alguém com uma maca. A maca com uma paciente é deixada no corredor enquanto se vai "lá dentro" buscar uns papéis. Pouco tempo depois um enfermeiro dirige-se à doente que estava na maca e diz-lhe: "-Olhe, já estamos a tratar de si. A senhora agora faz o exame e vai para o piso de cima, tá bem?". A mulher estava completamente moribunda, ligada ao soro, ligada àquela maca e pergunta-lhe a sussurrar: " - Eu vou morrer, não vou doutor?". O homem olhou para ela e diz-lhe "Não vai nada morrer. Porque é que diz isso?". Depois voltou-se e fez uma cara de desânimo. Uma cara de quem diz as palavras só por dizer, uma cara de quem tem de mentir até à raíz dos ossos só para confortar. E no meio daquela azáfama, daquele corrupio eu acho que fui a única a ouvir aquele diálogo baixinho. E comovi-me.

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